Resenha: Por Lugares Incríveis - Jennifer Niven

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Violet Markey tinha uma vida perfeita, mas todos os seus planos deixam de fazer sentido quando ela e a irmã sofrem um acidente de carro e apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada pelo que aconteceu, Violet se afasta de todos e tenta descobrir como seguir em frente. Theodore Finch é o esquisito da escola, perseguido pelos valentões e obrigado a lidar com longos períodos de depressão, o pai violento e a apatia do resto da família.
Enquanto Violet conta os dias para o fim das aulas, quando poderá ir embora da cidadezinha onde mora, Finch pesquisa diferentes métodos de suicídio e imagina se conseguiria levar algum deles adiante. Em uma dessas tentativas, ele vai parar no alto da torre da escola e, para sua surpresa, encontra Violet, também prestes a pular. Um ajuda o outro a sair dali, e essa dupla improvável se une para fazer um trabalho de geografia: visitar os lugares incríveis do estado onde moram. Nessas andanças, Finch encontra em Violet alguém com quem finalmente pode ser ele mesmo, e a garota para de contar os dias e passa a vivê-los.
Autor: Jennifer Niven Páginas: 336 Editora: Seguinte ISBN: 9788565765572
“O que percebo agora é que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa.”
Como falar de um livro que partiu seu coração em milhões de pedacinhos e te deixou catando eles por, mais ou menos, uma semana entre crises de choro e inconformidade? Bem, não tem como. Sinto que tudo o que falar aqui não vai fazer justiça a esse livro maravilhoso. Só acho que em algum momento todos deveriam ler Por Lugares Incríveis.

Theodore Finch é imprevisível, engraçado, com seus momentos depressivos e um tanto poéticos. É conhecido na escola como a "Aberração"  por conta de suas atitudes estranhas e, aparentemente, sem sentido, embora as críticas dos colegas não o incomodem por já ter se acostumado com isso. A família de Finch é uma bagunça, o que explica a razão de sua vida também ser uma bagunça, mas que não o impede de ser um dos personagens mais apaixonantes que já conheci justamente por ter essa personalidade tão única. Finch é um garoto que tem como um dos maiores passatempos pesquisar sobre formas e curiosidades de suicídio (só um pouco mórbido, né?). Por ter uma mãe bastante ausente e apática e irmãs perdidas e quebradas, Finch faz o que dá na telha e incorpora personagens a torto e a direito, ao longo do livro conheceremos o Finch anos 80 (que é vegetariano), Finch "largadão" (quase um mendigo) e Finch "fodão" (e inglês)... 
“Imagino como deve ser andar na rua, confiante e calmo, sentindo-se bem consigo mesmo, e simplesmente se misturar. Sem que ninguém se afaste, ninguém encare, ninguém espere ou imagine qual será a próxima maluquice que você vai fazer.”
Do outro lado temos Violet Markey. A garota com uma vida digna de filmes adolescentes. Popular, linda, inteligente, com um blog de sucesso e com uma irmã incrível (e que não é chata). Violet tem tudo o que uma garota gostaria de ter e era feliz com isso. Até que um grave acidente envolvendo Violet e sua irmã (e também melhor amiga) termina com Violet viva, mas com a irmã não tendo a mesma sorte. Como sobrevivente, Violet se sente culpada. Culpada por estar viva e irmã morta; culpada por rir e sentir como se traísse a memória da irmã. E com isso vai se sentindo cada vez mais consumida pela dor e conta os dias para se formar e sair da cidade.
"Não sou perfeita. Tenho segredos. Sou uma bagunça. Não só o meu quarto, mas eu mesma. Ninguém gosta de bagunça."
Os dois acabam se conhecendo nas circunstância mais estranha e assustadora possível. No alto da torre da escola, onde os dois tinham o mesmo objetivo, mas que acabam se salvando. E, por meio de um trabalho de Geografia, onde eles tem que conhecer um pouco do estado onde vivem, começam a se conhecer melhor e a se apaixonar.
"Agora tudo o que vejo é uma garota morrendo de medo de viver. [...] Você precisa retomar as rédeas. Ou vai ficar em cima do parapeito que construiu para si mesma para sempre."
Longe desse livro ser um grande clichê onde o garoto esquisitão encontra a garota bonita e popular e todos vivem felizes para sempre. Na verdade, isso dá para perceber a partir da descrição do Finch. Por Lugares Incríveis passa longe disso e te dá uma bofetada no rosto e vai mais além de um simples romance. Jennifer Niven vem nos mostrar o imenso poder de destruição que as palavras tem e trata de uma realidade tabu, mas que precisa estar sendo mais discutida em nosso meio, que é a questão dos rótulos.
“O que eu sei sobre transtorno bipolar é que é um rótulo. Um rótulo para pessoas loucas. Sei disso porque fiz um semestre de psicologia e vi filmes e convivi com meu pai durante quase dezoito anos, embora ninguém jamais o rotulasse, porque senão ele mataria a pessoa. Rótulos como “bipolar” significam: É por isso que você é assim. Esse é você. Reduzem as pessoas a doenças.”
Niven mostra que existem pessoas diferentes sim, mas que essas diferenças não precisam ser consideradas ruins. Que não é um diagnóstico que faz uma pessoa. Abaixo daquele rótulo existe um ser humano e que ele precisa ser tratado como tal por mais que ele não haja de acordo com o que a sociedade considera por "normal" ou "comum" e, de certa forma, Finch redefine esses termos. Afinal, o que é considerado normal nessa sociedade adoecida em que vivemos? Acredito que Violet está ali para provar isso, pois no decorrer da história temos o contraste entre as vidas dos dois personagens: Violet com uma família sempre presente e preocupada e Finch com uma mãe passiva e negligente, igualmente afetada pelo abuso e abandono do ex-marido, não consegue cumprir seu papel perante os três filmes.
“Imagino como deve ser andar na rua, confiante e calmo, sentindo-se bem consigo mesmo, e simplesmente se misturar. Sem que ninguém se afaste, ninguém encare, ninguém espere ou imagine qual será a próxima maluquice que você vai fazer.”
A autora chama a atenção para outro ponto a ser discutido que é a banalização de doenças psíquicas, ou seja, que não tem sintomas tão visíveis como uma gripe ou virose, que costumam ser tratadas como besteira, frescura ou uma tentativa de chamar a atenção. Como eu disse, a autora gosta de dar alguns tapas.
"A verdade é que eu estava mesmo doente, mas não com uma simples gripe. De acordo com a minha experiência, as pessoas são mais compreensivas se conseguem ver a sua doença, e pela milionésima vez na vida eu desejei ter sarampo ou varíola..."
Lindo, profundo, inspirador e incrivelmente triste, este livro tirou o meu fôlego e me deixou uma piscina no meu quarto. Não posso dizer que abriu os meus olhos, mas que me fez dar mais ênfase a questões problemáticas e que deveriam ser mais discutidas. Finch e sua excentricidade vão ficar comigo para sempre, bem como a delicadeza de Violet e suas viagens maravilhosas por todos aqueles lugares incríveis.
“Hoje é o seu dia./ Você vai a Lugares Geniais!/ E está cheio de energia!”
Daniele Costa
Leitora Compulsiva. Geek. Fangirl. Que tem uma queda por histórias de ficção fantasiosa, especialmente se tiverem aquele ar sombrio, mas que não resiste a um romance fofo. Autora do blog Estante de uma Fargirl.

8 comentários:

  1. Olá, Dani

    Sua resenha ficou maravilhosa! É nítido, através de suas palavras, que você adorou mesmo a história e que ela te emocionou. Infelizmente não é uma história que desperte meu interesse, não curto muito o ponto de partida dele, mas não desconsidero totalmente a leitura.

    Beijo
    - Tamires
    Blog Meu Epílogo | Instagram | Facebook

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  2. Oiii Dani

    Já ouvi falar muito desse livro, parece ser realmente lindo, discute temas fortes mas com delicadez e leveza. É o tipo de história que certamente preciso conferir

    Beijos

    unbloglitteraire.blogspot.com.ar

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  3. Oi Daniele!

    Nossa, só de ler a sua resenha a gente percebe que é intenso! Parece ter uma abordagem bem interessante, só preciso preparar meu coração rsrsrsrs

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  4. Olá.
    Todas resenhas que leio deste livro, todo mundo diz que sentiu o coração partido. Eu não me senti assim. :( Eu gostei do livro, mas não foi um dos melhores que li. Mas eu gostei da sua resenha. Com certeza se eu não tivesse lido, eu iria agora mesmo ler! rs.

    Beijos. (http://psamoleitura.blogspot.com.br)

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  5. Helloo, Dani! Tudo numa nice?!
    Eu quis ler esse livro logo que saiu porque tinha amado a capa e estava numa fase de me esbaldar em YA sobretudo aqueles bem densos. Esse livro me deixou sem chão e desestabilizada por um tempo. Em dado momento da leitura eu parei e pensei em largar, mas prossegui. Foi terrível - no bom sentido, é claro. Foi tocante e me deixou sem chão e cheia de lágrimas nos olhos. Um ponto que me chamou atenção na leitura foi a questão da negligência da mãe do Finch - foi a parte que mais me marcou, como muita gente fica alheio a doenças psíquicas.
    Ótima resenha.
    Beijin...
    Pieces of Alana Gabriela

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  6. Oi, Dani!! Tudo bem??
    Li esse livro no início do ano e ele me despedaçou por inteiro também :'( Adorei o termo que você usou "deixou uma piscina no meu quarto". Aqui aconteceu quase que a mesma coisa hahaha Sempre superindico esse livro. Até pra quem não curte muito o gênero é capaz de gostar de Por Lugares Incríveis. Bjs,

    www.estranhoscomoeu.com

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  7. Oi Dani,
    Esse livro acabou comigo. Me marcou muito e foi um dos melhores livros que li ano passado.
    Tive um caso de suicídio na família e consegui me identificar muito com Violet.
    Uma dica muito valiosa de leitura.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  8. Ganhei esse livro de presente! Tenho que ler <3
    Bjs
    http://eternamente-princesa.blogspot.com.br/

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