Resenha: Cidade Murada - Ryan Graudin

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
A Cidade MuradaA Cidade Murada é um terreno com ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos e prostitutas. É também onde mora Dai, um garoto com um passado que o assombra. Para alcançar a sua liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue e formar uma dupla com alguém que consiga fazer entregas de drogas muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta, que finge ser um menino para permanecer em segurança e também procurar por sua irmã. Mei Yee está mais perto do que ela imagina: presa em um bordel, sonhando em fugir... até que Dai cruza o seu caminho. Inspirado em um lugar que existiu, este romance cheio de adrenalina acompanha três jovens unidos pelo destino em uma tentativa desesperada de escapar desse labirinto. 



❤ Autor: Ryan Graudin    ❤ Páginas: 400     Editora: Seguinte


Cidade Murada é um livro que foi me conquistando pouco à pouco. Quando o livro foi publicado, ano passado, tive a oportunidade de ler uma ou duas resenhas e ambas resenhas eram bastante positivas, além disso o fato de ser um livro autoconclusivo pesou bastante também para que o livro entrasse nos meus desejados. Gosto de sagas, claro que sim. É ótimo poder ter nossos personagens favoritos conosco por mais tempo e livros mas, num mercado em que tudo se tornou saga e até mesmo trilogias estão sendo esticadas com o fim de garantir novas continuaçoes (que nem sempre resultam tão bem sucedidas), é um sopro de ar fresco conseguir encontrar uma distopia cheia de ação e mistério na forma de uma história autoconclusiva.

Não entendo bem porque demorei tanto pra ler Cidade Murada. Acho que minha única justificativa acaba sendo o óbvio mesmo. Entre tantos pendentes e tantas novidades sendo publicadas, o livro acabou indo parar numa pilha de pendentes aonde por fim foi quase esquecido. Por sorte, este mês surgiu a oportunidade de conferir a história e ao fim, de nenhuma maneira me arrependi. A Cidade Murada me impressionou, apresentando um cenário baseado em fatos reais, narrado em um tom melancólico, que me prendeu e me cativou capítulo após capítulo.



A história nos remonta à cidade murada de Hak Nam, nos arredores de Seng Ngoi, um lugar que outrora foi um forte militar, protegendo o exército, com seus muros impenetráveis. Abandonada, Hak Nam acabou tornando-se reduto de criminosos, traficantes, gangues de rua, drogados e prostitutas. Um lugar sem leis, em que o próprio governo da nação Seng Ngoi parece querer ignorar a existência. 
Hak Nam é um lugar rodeado por becos e janelas com grades, cheiro de mofo e de lixo, desesperança e muita injustiça.
É nesse cenário desolador que conheceremos aos nossos três protagonistas: Mei Yee, Jin Ling e Dai Shing. 

Essa foi a minha primeira experiência com protagonistas orientais. Há poucos meses atrás tive a oportunidade de ler um chick lit ambientado em Dubai, mas confesso que talvez por ser um chick lit, ou talvez porque a cultura árabe já se torna mais comum entre nós, não me soou tão diferente. 

Jin Ling é uma jovem garota (o livro não especifica a sua idade, mas diversos fatores dão a entender que Jin é uma pré adolescente) que, após fugir de casa, ganha a vida nas ruas de Hak Nam, a cidade murada, praticando pequenos furtos. Em um lugar sem leis, ser uma menina é mais do que uma desvantagem e por essa razão Jin cortou seus cabelos, vestiu roupas largas e se tornou assim a cópia exata de um menino. E fingindo ser um menino, ela consegue sobreviver ao duro dia à dia, sozinha, sem ter em quem confiar. 
Jin não está em Hak Nam por acaso. Ela fugiu dos campos de arroz aonde vivia após seu pai, um alcoólatra, ter vendido a sua irmã mais velha, Mei Yee.
Jin sabe que se Mei ainda está viva, há enormes possibilidades de que ela esteja em um dos bordéis de Hak Nam e sua missão é resgatar a irmã, custe o tempo que custar.

Dai Shing está condenado. Condenado em seu país e condenado por sua própria consciência. A culpa consome Dai dia após dia, e voltar para casa parece ser ao mesmo tempo sua esperança e também seu maior temor. Por enquanto Dai está preso em Hak Nam. Ele tem uma missão, algo dificil, quase impossivel, que é entrar na fortaleza de um dos maiores criminosos do lugar, o líder da Irmandade do Dragão, o traficante Longwai. Dai possui um objetivo, e deverá cumpri-lo para limpar seu nome e sair de Hak Nam. Porém, o tempo está cronometrado. Ele tem até o Ano Novo chinês para cumprir sua missão ou estará perdido para sempre. 

Quando Dai e Jin se unem, ambos querem ocultar um do outro os seus segredos. Jin precisa entrar no bordel de Longwai, pois esse é o último reduto onde ela acredita que Mei Yee pode estar. E dessa maneira, Jin é obrigada a quebrar uma de suas regras mais importantes e se aliar à Dai, para tornar-se junto à Dai, alguém da confiança de Longwai.

Mas Longwai, apelidado de Dragão, não adquiriu a sua má fama por acaso. Ele é perigoso, e também é inteligente, e enganar esse perigoso criminoso pode ser mais difícil do que Jin e Dai poderiam supor.

Mei Yee já perdeu as esperanças. Seu único contato com a realidade é através da única janela que há em seu quarto e através de seu cliente exclusivo, o embaixador Osamu, um homem bem mais velho, poderoso, que, obcecado pela beleza e juventude da jovem gueixa, exigiu tê-la com exclusividade. Dessa maneira, Mei Yee conseguiu escapar de ser entregue novamente à outros homens, como acontece com suas colegas de bordel, porém, será que ser a amante exclusiva do poderoso embaixador é uma vantagem, ou deixar de se tornar um objeto de vários homens para tornar-se a propriedade de um só senhor pode ao fim ser a ruína da própria Mei Yee?
Quando a esperança aparece sorrateiramente na janela de Mei Yee, ela não pode mais deixar de sonhar com tudo o que um dia ousou desejar e nunca pode ter. 



É nesse clima dificil e até mesmo melancólico que Ryan Graudin nos apresenta o dia a dia na dificil Hak Nam. Pra quem não sabe, apesar de estar catalogado como distopia no Goodreads, A Cidade Murada bem pode ser classificada também como ficção histórica já que a cidade de Hak Nam realmente existiu porém, com outro nome. O autor mesmo em sua "Nota do Autor" esclarece que Hak Nam é na verdade a cidade de Kowloon e Seng Ngoi na verdade representa Hong Kong. 
O autor escolheu mudar os nomes e inclusive mesclar a cultura do lugar com toques da cultura japonesa e chinesa para transformar a sua obra me mera ficção. Porém, quando se pesquisa sobre a verdadeira cidade e os testemunhos dos que um dia habitaram ali, logo percebe-se que a ficção criada por Ryan Graudin acaba sendo extremamente parecida à própria realidade dessa antiga cidade que hoje, foi totalmente demolida pelo governo de Hong Kong e transformada em um parque.

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Os personagens, todos eles, conseguem cativar o leitor com suas histórias duras e trágicas. É dificil não sentir-se transportado para essa atmosfera tão oriental e ao mesmo tempo tão distinta à tudo o que se poderia imaginar à respeito de Hong Kong. 
A narrativa de Ryan Graudin é tão impactante e ao mesmo tempo melancólica quanto uma linda canção chinesa e a ambientação é tão carregada de disparidades e nuances que ao fim da leitura o leitor se sente completamente fascinado por essa cultura tão vasta e milenar.

Ryan Graudin soube acrescentar todos os ingredientes que tinha à mão na medida certa. O livro consegue nos apresentar toda a dor e angustia de seus personagens sem cair no drama excessivo, há momentos de ação intensa e também capítulos cheios de intriga, que terminam deixando o leitor extremamente curioso em continuar a leitura até o final para conhecer e desvendar os mistérios de cada um dos personagens. E, para os que não conseguem ficar sem um grande amor, Ryan traz, de maneira secundária, um romance bastante pausado e que consegue ser fofo, sem ser enjoativo ou absurdo.

A Cidade Murada foi tudo e um pouco mais do que eu poderia esperar, e me sinto satisfeita de ter optado por essa leitura, nesse momento. A ambientação diferente, fora do que estou habitualmente acostumada à ler, foi todo um diferencial na leitura, e o fato de saber que aquela inquietante cidade murada existiu em algum momento de nossa história, terminava por aguçar ainda mais a minha curiosidade em conhecer todos os aspectos da vida daqueles personagens que, apesar de não haverem existido realmente, conseguem tornar-se tão humanos e reais ao ponto de abalar o leitor em muitos momentos de seus relatos mais duros.

Fica a dica! Para os amantes (ou não) da milenar cultura asiática, da distopia mesclada à uma inquietante realidade histórica, e para aqueles que gostam de se lançar em uma história diferente e muito original, Cidade Murada é uma opção irresistível. 





Alice Duarte
25 invernos, Mãe de dois, Casada, Leitora compulsiva, Drama queen, Fashion victim, Coffee addict, Intento de blogueira. Autora do blog Um Blog Litteraire.

6 comentários:

  1. Oie
    Acho que nunca me interessei pelo livro por conta dessa capa, mas o enredo dele parece bom.

    Beijinhos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  2. Amei a sua resenha! É tão bom quando nos surpreendemos com a história <3 Não dava nada para o livro, achei a capa meio blé (vergonha kk). Com certeza se eu me deparar com esse livro no futuro, eu lerei.

    Beijo*
    http://umminutoumlivro.blogspot.com.br/
    http://oracullo.com/

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  3. Oi Alice! Tudo bem?

    Puxa, realmente ser um livro só conta e muito! Ando bem casada de trilogias infinitas hehehehe O enredo parece ser bem promissor e que bom que foi uma boa leitura pra vc!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  4. Oi Alice,
    Alguns aspectos me lembraram Legend. Será que estou certa?
    Fiquei curiosa sobre a obra!
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  5. Oi querida,
    adorei a resenha. Espero ler em breve a história...
    Um detalhe que você falou me lembrou Legend. Acho que o cenário lembra bastante o mundo criado pela Marie Lu ♥

    Beijoss, Enjoy Books

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  6. Olá Alice, tudo bem?
    Não conhecia o livro, mas amei a resenha.
    Eu gosto muito de distopias mas as vezes tenho preguiça de começar uma série e tal, então adorei o fato de ser um livro só.
    Beijos!

    Http://excentricagarota.blogspot.com.br

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